Entendendo o processo de oralização
Como é difícil fazer com que a nossa sociedade compreenda as necessidades dos surdos e inacreditavelmente se ele for oralizado.
Aliás, vamos explicar direitinho o que significa: oralização e bilingüismo, porque a maioria das pessoas também não entende quando falamos isso.
Dessa forma criei esse organograma para tentar explicar um pouco mais:
Surdo oralizado é o deficiente auditivo que optou pela Língua Portuguesa escrita e falada. Usualmente, utilizam aparelhos de amplificação sonora (aqueles aparelhos que estamos acostumados a ver) e são chamados de Aparelhos AASIs.
Hoje existe uma nova tecnologia de aparelhos auditivos chamados de Implantes Cocleares. Esses aparelhos possuem um dispositivo que é colocado internamente na cóclea (através de cirurgia), chamado de eletrodo. Possui um dispositivo externo chamado de decodificador de fala, um microfone e um imã que tem a finalidade de transferir o sinal recebido para o eletrodo dentro da cóclea.
O período crítico do desenvolvimento auditivo vai do nascimento aos 3 anos, com algumas pequenas diferenças entre cada indivíduo.
Dessa forma, esse é o período ideal para se iniciar a terapia de oralização
Estudos neurocientíficos comprovam que nesse período, de o a 3 anos, há uma maior probabilidade de plasticidade neuronal da área auditiva dando condições para que novas ligações sinápticas sejam criadas no cérebro, a partir, da estimulação auditiva através de aparelhos de AASIs ou Implantes Cocleares.
Porém, muitas dessas crianças não são implantadas no início desse período, que seria entre 1 e 2 anos. E isso causa um retardo no desenvolvimento auditivo e lingüístico das mesmas.
Porém, quem se relaciona com essas crianças percebe que as mesmas possuem um desenvolvimento cognitivo normal e um pequeno retardo do desenvolvimento psicológico.
Ou seja, parece que o fato delas ficarem em privação auditiva por cerca de 2 anos e apresentarem um atraso no desenvolvimento da fala, causa um pequeno retardo no desenvolvimento psicológico comparado com crianças da sua idade.
O que significa dizer que elas possuem atitudes um pouco mais infantilizadas para a faixa etária delas.
Se analisarmos isso, entenderemos que, pelo fato dessas crianças não ouvirem elas passam por uma privação da fase de ninar através das cantigas de ninar das mães; das historinhas contadas para dormir; das fases de troca de fonemas no início da fala, etc.
Mas curiosamente, ao começarem a ouvir, querem vivenciar todas essas fases que passaram sem ouvir. Comprovando a tese de que nosso desenvolvimento psicológico necessita da vivencia auditiva.
Por isso, muitas crianças deficientes auditivas apresentam uma infantilidade mais acentuada. Mas outra curiosidade é que, se estimuladas corretamente, ao alcançarem um determinado nível de linguagem, conseguem se igualar ao desenvolvimento psicológico normal para a sua faixa etária.
Gostaria de destacar que, mesmo apresentando essa necessidade de vivenciar aquilo que não puderam ouvir durante uma determinada fase do desenvolvimento, essas crianças não apresentam nenhum problema de atraso cognitivo, a não ser, que a partir dos 7 anos seja diagnosticado mais alguma deficiência.
Por isso, ao se deparar com uma criança deficiente auditiva oralizada, usuária de implante coclear ou AASIs, não haja como se ela tivesse um atraso cognitivo. A grande dificuldade que ela está sentindo, ao se comunicar com você, é apenas auditiva, o seu cérebro está decodificando o tom da sua voz e isso às vezes demora alguns pequenos segundos.
Um grande abraço a todos e até a semana que vem,
Luciana Pelosini.
A obra Entendendo o processo de oralização de Luciana Pelosini foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada. Com base na obra disponível em http://www.acessibilidadetotal.com.br/entendendo-o-processo-de-oralizacao/