Prefácio do livro: "Estimulação auditiva e plasticidade neuronal, uma nova lição a ser aprendida por professores e escolas."

Prefácio

Depoimento sobre as dificuldades atuais em termos de educação e vida social de pessoas deficientes auditivas que optaram pela conduta de oralização,

Desmistificação do termo “inclusão,
Alerta para áreas de educação e educação física na conduta tomada em relação às crianças especiais.




Quando comecei a escrever este livro percebi que existia assunto suficiente para se escrever dois ou três livros com diferentes abordagens, mas que ao final se completariam.
Esses livros contemplariam idéias para iniciativas de Educação Formal, aquela atribuída á escola. E Informal, aquela que aprendemos no convívio social, na integração com outras pessoas: dentro da escola,  igreja, família e com a própria sociedade, quando se fala em “Inclusão” e em “Educação Especial”.

Na verdade, os conceitos a serem abordados dentro deste livro, o qual poderá ser o primeiro de uma série, vêm dar novas idéias e susbstituir alguns, dando uma nova leitura sobre:
  • Inclusão;
  • Terapias de desenvolvimento;
  • Estimulação auditiva e Plasticidade neuronal das áreas cerebrais corticais da audição e da fala;
  • A importância do entendimento dos professores e da escola no processo de estimulação auditiva;
  • Estimulação auditiva na escola para todos;
  • Educação Especial;
  • Acontribuição da estimulação da área cortical motora para o desenvolvimentos da percepção da audição, fala e linguagem;
  • A contribuição da Educação Física. Estimulação audio e visio motora nas aulas de Educação Física e esportes
  • Esportes Paraolímpicos, , etc.

Diria então, que se aprofundam ainda mais nos nossos conceitos atuais de sociabilização, aceitação e convívio. Conceitos que afetam diretamente a sociedade, a família, os profissionais que lidam com crianças especiais e principalmente a Escola.

Por problemas vividos durante a minha vida como diabética tipo I e minhas experiências como educadora, como Educadora Física e como mãe de criança deficiente auditiva; resolvi no meio do livro escrever novamente o seu prefácio e direcioná-lo especificamente á minha área de formação, à Educação Física.

A Educação Física, tão carente de informações teóricas á cerca das diferentes deficiências existentes, dos conceitos sociais, políticos, educacionais e os diferentes tratamentos de reabilitação existente? Quais serão os conceitos adquiridos por esses profissionais na graduação? Como deve ser o posicionamento de um profissional da área ou de um estagiário, eticamente quando se fala em inclusão?

Hoje, os alunos de Educação Física possuem dentro do seu currículo de graduação a matéria Educação Física Inclusiva, a qual aborda de maneira geral os aspectos físicos, psíquicos, neurológicos, fisiológicos das diferentes deficiências. Mas de maneira breve e sucinta.

Nós professores, educadores físicos sabemos desde a graduação que o embasamento teórico dado não é suficiente. Mas durante a graduação, aceitamos e nos calamos.

Hoje o profissional de Educação Física ao término do seu curso de graduação deve estar apto à receber um aluno com qualquer tipo de deficiência ou déficit em sua aula.  Seja na escola fundamental, nas academias, nos clubes e até em treinamentos.

E então, o profissional de Educação Física possui instrumento significativo para tratar desses assuntos?

Educação física, tão carente de informações e tão completa com meios de ajudar á vencê-los.

Por quê?

Porque não há melhores exemplos para a sociedade como a repercussão de um evento como as Olimpíadas e as Paraolimpíadas ou os Desportos e o Paradesportos. Os quais nos mostram na prática, conceitos sociais, culturais, históricos, geográficos, políticos, esportivos, de superações e também de fracassos na sociedade mundial.

Sei que ao defender os meus conceitos sobre o tema geral “Inclusão”, não estarei mexendo apenas com as atuais idéias profissionais. Estarei mexendo profundamente no mundo de pessoas, adolescentes e adultas, com necessidades especiais. Pessoas que já possuem conceitos formados de vida em sociedade prática e teoricamente, cidadania, política, educação. E se posicionarão contra ou a favor dessas novas idéias.

Pessoas que já se acostumaram em se autodenominar especiais e incluídas. Que se acostumaram na verdade com dois mundos.

Mundos que as sociedades vêm impondo á séculos. E que hoje, algumas pessoas pertencentes ao “mundo dos especiais” e “incluídas dentro do mundo dos normais”, criarão obstáculos para se igualarem. Pois afinal de contas “se eu não pertenço ao seu mundo, você também não pode pertencer ao meu”. Dois mundos criados para dizerem que um deles aceita e o outro para dizer que foi incluído.

O meu objetivo aqui, não é apontar os erros ou os acertos, mas fazer com que pessoas com necessidades especiais, profissionais das áreas de educação e educação física, reflitam sobre esses itens que acabei de citar.

Não me conformo ao ver pessoas ditas como “normais” elaborarem projetos para atender pessoas com necessidades especiais. Acho isso o cúmulo do FALSO MORALISMO. Ao invés de capacitar esses cidadãos, dar-lhes condições de se auto-sustentar e trabalhar de maneira efetiva para reabilitá-lo. Preferem realizar os trabalhos envolvendo a vida do deficiente sem ao menos perguntar-lhes se existe alguém habilitado para ajudar. Isso demonstra o exemplo que estou querendo dar, a não capacidade de acreditar na própria mão de obra vinda de um deles (educação e formação) ou na reabilitação exercida durante anos para integrá-lo à sociedade.

Vocês querem ver um exemplo claro disso? Vocês conhecem alguma entidade para deficientes físicos em que os mesmos são responsáveis, por exemplo, em passar as necessidades para um deficiente cadeirante ser acomodado em um novo emprego? Quem faz esse serviço geralmente são “pessoas sem deficiência”. E porque isso? Não existe nenhuma pessoa cadeirante que possa realizar este tipo de trabalho nas instituições? Os cadeirantes não possuem capacidade para realizar o trabalho? Não existe nenhum cadeirante formado em alguma faculdade que não possa realizar esses e outros trabalhos ligados ao bem estar de pessoas como eles? Ou será que estamos achando ainda, que esses não são capazes de realizar determinados trabalhos?

Eu diria em uma única frase:

Agarrem aquilo que é de vosso direito. Assim mostrarão a sociedade como respeitá-los.

Desculpem existem sim algumas entidades já trabalhando dessa forma, o IBDD, Instituto Brasileiro de Direitos da Pessoa com deficiência, é um deles.

Resolvi escrever de maneira diferente de outros autores que tratam dos mesmos assuntos e ao final deste livro, os leitores perceberão que vamos tratar sobre assuntos relacionados a qualquer tipo de “inclusão”.

Esse livro fará uma ponte entre a minha vida cotidiana e a teoria, primeiramente para explicar a construção de um ideal de vida que posteriormente se transformou em um conceito educacional.

Após alguns anos de formação acadêmica e profissional, passei a elaborar mentalmente um projeto educacional de “inclusão”. Mas esse projeto só foi concretizado formalmente após algumas vivências práticas da vida.

Então, ao lermos o livro passaremos sempre por uma vivência prática da vida cotidiana, mas as ao final de cada capítulo constituirão os conceitos teóricos educacionais dessa nova maneira de ver a Inclusão.

Uma das vivências e acredito que a mais importante delas, foi a descoberta da deficiência auditiva da minha filha. Mas apesar desse livro tratar diretamente de Estimulação auditiva, ele fará essa ponte, que ajudará muitos pais de crianças com qualquer problema diagnosticado. E a ênfase maior que será, ajudar pais de crianças com problemas não diagnosticados.

Mostrarão aos diferentes profissionais, aos que se interessarem pela leitura, que uma Visão da Prática e do cotidiano do aluno pode explicar Teoricamente e quem sabe em um futuro bem próximo Neurociêntificamente alguns conceitos aqui defendidos.

Isso significa dizer que os embasamentos práticos da vida cotidiana, aqui defendidos com pontos chaves dessa nova metodologia, podem eventualmente se tornar um conceito teórico educacional. Os quais serão comprovados através de estudos neurociêntíficos em laboratórios ou em estudo de Artigos Científicos já publicados.

Passo a me dedicar a partir de abril de 2010 ao estudo da Neurociência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e espero contribuir teoricamente ao estudo da estimulação auditiva para deficientes auditivos, crianças com problemas de processamento auditivo central. E principalmente, a inclusão geral de crianças com outros déficits nas escolas.

É nesse conceito que incluo então a oralização e a não oralização de deficientes auditivos.

Esse prefácio foi modificado porque algo me incomodou profundamente.

Sou professora de Educação Física e nunca trabalhei especificamente com portadores de necessidades especiais. Graças a Deus.

Na verdade, essas pessoas que possuíam alguma necessidade especial, estavam dentro das minhas aulas, junto com outras tantas que necessitavam também de alguma atenção especial.

Eu fico incomodada de ver a existência da Olimpíada e da Paraolimpíada.

Isso realmente é a efetivação social mundial de que a inclusão não existe.

Primeiro que um atleta olímpico e um atleta paraolímpico deveriam pertencer a uma única delegação: a Delegação Oficial de Atletas do seu país. Mas não, hoje existe a Delegação Olímpica e a Delegação Paraolímpica. Existe a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos e a medalha de ouro dos Jogos Paraolímpicos.

Desculpe, eu posso estar sendo ignorante demais, mediante a história mundial dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Talvez eu não esteja enxergando os obstáculos e as conquistas de muitas pessoas para a realização e a construção de séculos de história desses Jogos. Mas devo admitir que a minha incompreensão seja insuperável.

Não consigo admitir que um atleta que não possua as pernas, mas que alcançou os índices olímpicos para a modalidade á que ele compete, não possa competir nos Jogos Olímpicos justamente por não possuir pernas ou possuir próteses mecânicas.

Eu não posso me conformar que pessoas com déficits auditivos não possam participar dos Jogos Paraolímpicos e que tenham que competir em Jogos Mundiais para Surdos. Que a deficiência auditiva não seja considerada uma deficiência e sim um déficit.
Que existam comunidades que apoiem esse discurso.

Isso é inaceitável, em termos competitivos. E em termos utilizados pelos nossos grandes filósofos educacionais, em termos inclusivos.

O COI, Comitê Olímpico Internacional, admitiu através de nota oficial que, o pedido do atleta para competir nos Jogos Olímpicos de Pequim era inaceitável, pois o mesmo fazia uso de instrumento mecânico de pernas, frente aos outros competidores que possuíam pernas (naturais obviamente).

Boa conclusão, não? Para quem é atleta paraolímpico e não possui os membros inferiores.

Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos são a demonstração mundial clara da não existência dessa tal “Inclusão”.

Pois devo admitir, como professora de educação física, que a existência dos Jogos Paraolímpicos significa dizer que esses atletas não possuem condições iguais as dos atletas olímpicos. Na verdade, pelo menos em nosso país, é o que parece predominar.
Se nossos atletas olímpicos ou com chances olímpicas não possuem recursos ideais esportivos, sociais, financeiros e de patrocínio para se manterem em treinamento. Imaginem as dificuldades que passam os atletas paraolímpicos.

Meu sonho é ver atletas competindo juntos.
As Olimpíadas serem unificadas para deficientes e não deficientes. Obviamente existindo apenas categorias diferentes.

Dar condições dos paraatletas alcançarem índices de provas exigidos para não deficientes. Caso isso aconteça, ele terá a chance de voltar ao nível olímpico, mas com a condição de não poder mais voltar para a categoria anterior.

Será maravilhoso, vocês não acham?

Imaginem dar condições de atletas paraolímpicos retornarem a categoria de olímpicos, sem preconceitos.

Imaginem uma Olimpíada aonde revezam categorias Olímpicas e Paraolímpicas. Que espetáculo que seria.

Imagine assistir a um campeonato olímpico e paraolímpico de natação e poder assistir em um mesmo dia o atual recordista mundial Michael Phelps e em outro ou no mesmo balizamento, o nosso Daniel Dias.

Que sonho!

Que exemplo dariamos de uma categoria para outra. Exemplos de respeito, de superação de marcas e índices, de superação de dificuldades e de convivência social.

Que exemplo lindo o esporte daria as nossas crianças.

A existência de um único mundo aonde todos convivem igualmente, respeitando as suas diferenças e dividindo o mesmo espaço.

Que o COI somasse junto, medalhas de ouro, prata e bronze de atletas com necessidades especiais e atletas sem necessidades especiais. Pois afinal, todos pertencem ao mesmo país.

Das delegações únicas de atletas com necessidades especiais e atletas sem necessidades especiais.

Da presença de torcedores nas arquibancadas dos Jogos, torcendo pelos seus grandes atletas: Olímpicos e Paraolímpicos.

É esse mundo que sonho para minha filha e para todas as crianças com ou sem necessidades especiais.

É esse mundo que estou tentando construir no meu pequeno trajeto como educadora.

É esse mundo que a nova pedagogia deveria estudar.

É essa a resposta que eu tenho as inúmeras pessoas com quem me deparei, inclusive deficientes auditivos adultos, que na ocasião me rotularam como uma mãe que não aceitava a deficiência auditiva de sua filha e resolveu implantá-la.

É a resposta de que a minha filha utilizando o Implante Coclear, ou Aparelho de amplificação sonora AASI, ou optando pela utilização da linguagem gestual no seu cotidiano, pertencerá ao mundo a que ela tem direito e não apenas ao seu mundo. Ou ao mundo que os ouvintes fizeram os deficientes auditivos acreditarem que existe, o mundo dos surdos. Obviamente, um mundo diferente dos próprios ouvintes que os ensinam.

Ela veio como todas as outras pessoas, com direitos e deveres de cidadã do mundo.

E mesmo se sua deficiência auditiva não lhe desse a capacidade de ouvir através dos seus ouvidos. Ou se sua deficiência auditiva não lhe proporcionasse capacidade de ouvir através de um aparelho de amplificação sonora ou através de um Implante Coclear, eu sua “Mãe” lutaria até o fim para lhe dar o direito de ouvir o mundo.

Eu lhe ensinaria, e ensino, através de outros sentidos a ouvir e a compreender os maravilhosos sons do mundo.

Eu lhe ensinaria e ensino a falar, para que ela possa dizer as outras pessoas, como se dá a compreensão do mundo, por uma pessoa que não ouve, mas é capaz de falar.

Eu nunca deixaria e nunca vou deixar que a rotulem por “Surda e muda” se o seu déficit é apenas auditivo.

Por essa razão utilizo a nomenclatura: deficiênte, com déficit ou com perda auditiva. Pois, para rotularmos uma pessoa como Surda, devemos antes de tudo saber qual é o seu grau de perda auditiva.
Uma pessoa que possui um déficit na audição, ou nos membros inferiores, ou nos membros superiores já possui dificuldade suficiente no seu cotidiano para ser rotulada com mais um déficit, como é o caso dos apenas surdos que todos chamam de "surdos-mudos".  Necessitam ser plenamente atendidos, compreendidos e respeitados como cidadãos.

Não consigo compreender quais são as relações que fazem os profissionais ao defenderem que pessoas com déficits de audição devem ser chamadas de Surdas e condenam ou não estimulam o uso dos aparelhos de amplificação sonora.
Não consigo compreender que uma pessoa com perda auditiva não possa ao menos tentar usar esses aparelhos antes de aprender que o seu mundo é o “mundo dos surdos”.

E finalmente, aonde eu gostaria de chegar:

Normalmente quando profissionais que lidam com reabilitação de crianças com deficiência física de membros inferiores ou deficiência visual em qualquer grau, prescrevem a utilização de aparelhos mecânicos: cadeiras de rodas, muletas, bengalas, bengalas brancas, etc. Devemos considerar também que em algumas vezes essas crianças e adultos são beneficiadas através da compra ou doação de aparelhos altamente modernos. Um bom exemplo disso são as últimas gerações de próteses de pernas, aquelas mesmas utilizadas por atletas em Paradesportos.

Porém, quando tratamos da reabilitação de deficientes auditivos infelizmente ao invés de propiciar aparelhos de última geração e reabilitá-lo à falar, condena-se o uso dos mesmos, como é o caso do Implante Coclear.

E a minha pergunta é:

Quem está realmente sendo preconceituoso em relação à reabilitação? Quem realmente não acredita na reabilitação?

Os deficientes auditivos ouvem sons diferentes uns dos outros, por possuírem diferentes níveis de perda auditiva. E exatamente por isso, são capazes além de ouvir, de sentir e se expressar mais que muitos ouvintes.

Todo esse trabalho significa dizer:

- Eu te amo, minha filha.

Boa leitura à todos.