quinta-feira, 5 de abril de 2012



Dúvidas sobre oralização de surdos ?

Por Luciana Pelosini- 5 de abril de 2012
Postado em: Artigos, Audição, Brasil, Destaques, Educação, Esporte


Por Luciana Pelosini

 
A pergunta de hoje é: Porque é tão difícil para as pessoas compreenderem o uso da linguagem oral por surdos?
Virou um tabu social.

Se for surdo e seja usuário de Linguagem Brasileira de Sinais ou Libras, como vamos incluí-los nas escolas?

Se for surdo e utiliza aparelhos auditivos ou Implantes cocleares e Língua Brasileira falada, não é mais surdo.

Acredito que o motivo principal dessa discussão, inicia-se pelo desconhecimento geral sobre o tema. A desqualificação profissional que se opera dento das Faculdades e Universidades que possuem ligação direta com o tema é um fator agravante e que prejudica muito o desenvolvimento de uma política social que atenda e inclua essas pessoas.

Na quarta-feira passada, nossa colunista Lak Lobato, que é deficiente auditiva e usuária de Implante Coclear, relatou uma série de dificuldades que enfrentam os Surdos Oralizados.

Dessa forma, elaborei algumas perguntas que podem responder algumas dúvidas de quem lida com crianças surdas, oralizadas ou usuárias de Linguagem Brasileira de Sinais – Libras:

A primeira dificuldade para quem está do lado de fora do problema é entender porque os pais de crianças surdas resolveram oralizá-las.

1)  Não seria mais fácil para a criança surda a aquisição da Linguagem de Sinais ou Libras ao invés de insistirmos na aquisição da língua oral (no caso o Português)?

Na verdade quando alguns estudos defendem essa disponibilidade da criança surda para a sinalização, não está levando em consideração o desenvolvimento normal da linguagem. Pois, segundo Vygotsky e alguns outros autores, qualquer criança, surda ou não, passa inicialmente pela Linguagem Gestual.

Entre os 2 anos e meio até 3 anos, lentamente e obedecendo a individualidade de cada um, passam a substituir a Linguagem Gestual pela Linguagem Oral. Por isso é tão importante durante essa fase da infância estimularmos a fala com brincadeiras, músicas, leitura de livros e contação de histórias. Para qualquer criança, havendo qualquer distúrbio ou não, esse tipo de estimulação é importantíssima.

Dessa forma, para a criança surda que possui um déficit ou uma porcentagem de perda daquilo que estamos falando, esta fase é potencializada. Ou seja, ela irá procurar os sinais ambientais, visuais e motores para se localizar e se comunicar. Por exemplo, a Leitura Labial que para eles é naturalmente aprendida.

Vale a pena lembrá-los que, para o desenvolvimento cerebral é nesta fase até mais ou menos três anos que acontece um “boom neuronal”, nascimento de novos neurônios e maior número de novas e variadas ligações sinápticas. Se alguma área cerebral é afetada, antes ou durante esse período, é justamente nesta fase que se pode reverter ou melhorar o quadro utilizando-se esse potencial de Plasticidade Neuronal. A estimulação das áreas afetadas nesta fase acentua a criação de novas ligações sinápticas e até a neurogênese, nascimento de novos neurônios. Isso significa dizer que, ao estimularmos a audição através de aparelhos de amplificação sonora estaremos aumentando o número de novas sinapses e até quem sabe, a neurogênese.

2)  Quem decide o que é melhor a se fazer?

Infelizmente alguns profissionais querem decidir pelos pais e em algumas vezes criticam essa decisão.
Vale lembrá-los que a decisão é estritamente familiar. Não adianta impormos nossos conhecimentos aos pais, pois uma vez decidido qual será o caminho da reabilitação, são eles e a família que contribuirão diariamente para o aprendizado oral ou gestual. O que vemos constantemente são escolhas impostas por reabilitadores e médicos e pais que não se importam com os resultados, bons ou ruins obtidos pelas mesmas.
Pois são os pais e os familiares os maiores responsáveis por respostas positivas nesse longo caminho.

3)  Quais são os critérios obedecidos para a escolha pela Oralização ou para o Bilingüismo?

Normalmente os critérios são mais ou menos assim: crianças com deficiências categorizadas entre Déficits Leves e Moderados prescrevem-se o uso de aparelhos de amplificação sonora, os AASIs.

Deficiências categorizadas entre Déficts Severos e Profundos prescrevem-se primeiramente a utilização e estimulação através dos aparelhos de amplificação sonora, os AASIs. Avaliação periódica do ganho oral e auditivo e posterior prescrição da cirurgia de Implante Coclear, pois normalmente para esse grau de deficiência o uso do AASI não resulta em bom ganho.

O Bilingüismo é a opção verificada quando os pais e a família aceitam aprender a Linguagem Brasileira de Sinais ou Libras.

4)  Como devemos agir em relação a crianças que estão sendo oralizadas?

Toda criança que está sendo oralizada usuária de AASIs ou Implante Coclear, continua na sua condição de Deficiente Auditiva, mesmo que os resultados da oralização sejam bons.

Todos os direitos voltados às crianças deficientes devem continuar a ser disponibilizados e estendidos aos surdos oralizados. Todos os recursos que podemos disponibilizar para ajudar a Inclusão dessas crianças nas Escolas, nos Esportes, no Cinema, nos Parques de Diversão etc. devem ser disponibilizados.

E lembremos que, toda criança surda que utiliza aparelhos AASIs ou Implantes Cocleares, pode em determinado tempo ou período ficar sem o uso de seus aparelhos, voltando dessa forma a sua condição inicial.

5)  Crianças oralizadas apresentam atraso na linguagem?

Isso dependerá do grau de deficiência auditiva (isso significa qual é o tamanho da lesão e qual área do ouvido foi afetada), da causa da deficiência auditiva (rubéola, uso de aminoglicosídeos, presença de outros déficits), em que fase de desenvolvimento aconteceu à lesão e de quando a criança passou a ser estimulada efetivamente.

Por isso a grande necessidade de se diagnosticar o mais rápido possível.

Como forma de comparação e para que vocês tenham noção do tamanho dos atrasos de linguagem decorridos da demora do diagnóstico final. Hoje em dia, existem crianças diagnosticadas antes dos 2 meses que já passam a utilizar AASIs e ao completarem 1 ano passam pela cirurgia de Implante Coclear. Essas crianças possuem um desenvolvimento auditivo quase que normal e respondem rapidamente à estimulação.

Espero poder ter contribuído de alguma forma para aprimorar o seu conhecimento.

Abraços a todos,

Luciana Pelosini.

Licença Creative Commons
A obra Dúvidas sobre oralização de surdos ? de Luciana Pelosini foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada. Com base na obra disponível em
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